Tecer da Educação João Francisco da Costa

A educação concebida historicamente como uma forma de diferenciar a humanidade dentro de seus contextos sociais, busca hoje, uma mudança dentro de sua própria concepção como criação humana, que por essa é utilizada, (re) criada, (re) modelada e influenciada.
Educar-se, tornasse muito amplo no sentido de seu entendimento precisa ela, a Educação, ser vista por muitos olhares, para que se possa tentar compreendê-la em seu amplo espectro.
Educar nos remete à questão do apreender que, em linhas gerais, é inerente ao ser humano. Aprender é uma questão e situação de estado, de tempo, de momento.
O aprendizado perpassa por inúmeros caminhos, ocorre de várias formas, sob muitos ângulos, em vários tempos. Aprender e, aprender a aprender é histórico, constitui a essência da própria humanidade. É através da reflexão sobre o aprendizado, que os seres humanos foram aprimorando suas técnicas, melhorando suas condições de vida, transmitindo seus conhecimentos às gerações futuras a de sua época.
O aprender busca bases, vivências, oralidades, teorias, empirismos, olhares, tatos, olfatos, paladares, audições, sentimentos e muitos outros fatores, nunca é, pela vida, negado ao ser; o dia-a-dia, a percepção do espaço, da quantificação do tempo, da instabilidade dos animais, ditos irracionais, são aprendizados quase que impostos para a sobrevivência dos seres, em seus tempos e em suas sociedades.
Muitas vezes, o aprender perpassa também pela forma formal: a escola, que inibe o próprio aprender por ele mesmo, domestica a criatividade, a curiosidade, o questionamento. Ao longo dos séculos, a escolarização ou as formas como ela se estabeleceu entre os variados povos do mundo, discriminou o processo do aprender, toliu o processo do refletir, do pensar, visando sempre institucionalizar aquilo que as pessoas deveriam aprender formalmente, desconsiderando todos os aprendizados e constituições destes, como por exemplo, os jesuítas, que trouxeram o catolicismo à América, intencionando a formatação dos povos indígenas dentro do padrão pré-estabelecidos pela Santa Sé.
O aprender e o educar chocam-se e (re) encontram-se ao longo da história da vida de todo ser humano.
O aprender valora o ser, o torna mais reflexivo, mais curioso, lhe trás perspectivas, gera os sonhos e a imaginação que trabalhada, pensada, aplicada pode tornar-se objeto palpável, material, para novamente ser pensada e se dar início a um novo processo do aprender.


Dinamismo e Aprendizado

Aprender não é uma coluna imóvel, aprender é um processo contínuo e que busca sempre ligações entre si e outros aprendizados anterior ou posteriormente adquiridos.
É necessário estar aberto ao aprendizado, salvo, onde ele se dá por questões de sobrevivência ou pela manutenção desta, no caso de uma adaptação natural, ocorrendo entre todos os animais, conforme já expunha Darwin, em seu Evolucionismo, pois neste caso, aprender torna-se imposição, obrigação, vivência e, mesmo assim, esse aprendizado não se aparta de outros, pelo contrário, ele se une a novas formas de reconhecer-se, toma outros layouts em comunidades distintas, possibilita formulações e novas conclusões.
Um aprendizado oral, que vise a manutenção de uma comunidade, por exemplo, construção de casas, pesca, pinturas do corpo, torna comum todos aqueles que o têm desde cedo, da tenra infância e este indivíduo se transforma uma peça dentro da engrenagem dessa comunidade. Em outro nível, se este ser é dinâmico, nômade ou migra só para outra comunidade ou núcleo social, onde os aprendizados sejam diferentes, ele se tornará uma nova engrenagem em outra comunidade, pois a reprodução de seu aprendizado em outro locus fará com que a roda existente se encaixe a uma nova roda de ensinamentos e conhecimentos, seja para aprender novas técnicas por ele trazidas ou ainda, para refletir sobre esses aprendizados do novo elemento, que poderá ou não contribuir para o todo, surgindo assim, a evolução das técnicas e da própria sociedade ou comunidade.
Os aprendizados variam de ser a ser, de um estágio humano a outro. Os aspectos geográficos, biológicos, sociais são fundamentais no processo do aprender/ensinar; eles, não limitam o aprendizado, pois para ele não há limites, eles desenvolvem formas diferenciadas de aprendizagens sobre determinadas formas, usos e técnicas e, sobre as reflexões sobre elas, sobre sua utilidade e aplicabilidades. Os fatores do meio onde o ser se inclui influenciam naquilo o que irá prender a atenção, o seu aprendizado, eles não determinam este aprendizado. O locus de inserção pode trazer novas possibilidades de reflexão, de raciocínio, de observação, de conclusão sobre si e sobre o que já se sabe e, ainda, o que poderá ocorrer a partir disso.
Construir o aprender a partir de si e em convivência com o grupo onde se inclui, constitui um poderoso processo de desenvolvimento do conhecimento e de (re) conhecimento próprio sobre o que se estabelece como instituição social (comunidade, família, geração, herança) e, sem embargo, sobre a constituição de uma construção coletiva de aprendizados variados e unidos, que se institucionalizam com as gerações, criando formatos à vida em grupo, cultivando saberes e os aprimorando a cada etapa de tempo vivido, gerando assim um arcabouço de elementos que podemos chamar cultura.
Todo o refletir sobre o saber humano leva-nos a uma concepção finalística de que uns possam ter aprendido mais que outros, todavia, esse fato deve ser fortemente contestado e (re) avaliado. Somos biologicamente iguais e, salvaguardando, problemas neurológicos e/ou degenerativos, somos todos capazes de refletir e do aprender e, sobre estes, novamente refletir e aprender; o que em determinada situação pode ocorrer é a falta de acessibilidade à técnica a ao domínio sobre o meio de produção e/ou reprodução econômica do conhecimento formal a determinadas camadas ou grupos da sociedade.

Direito de Educação: Produção do Aprender


Educação toma, na sociedade de hoje, um cunho bastante peculiar e que abriga várias vertentes.
A educação como instituição formal de produção de conhecimentos específicos, tecnológicos e científicos tem caráter historicamente discriminatório, no sentido do acesso à mesma.
Em linhas gerais, a educação ocupa um espaço importante dentro das sociedades mundiais, sobretudo, a partir do século XV, quando se inicia o processo das Grandes Navegações. Ao longo da história, ela atendeu as classes mais abastadas, gerando nas sociedades, além de todas as segregações existentes (cor, gênero, riqueza), um grande apartheid, no sentido intelecto-cultural, negando à grande massa o acesso à educação formal e instituída.
Analisando a historicidade educacional brasileira, observa-se que o acesso a maior parte da população à educação se dá após aos anos de 1940, pois até esta década, ela era dominada ou pela Igreja ou por fazendeiros e ricos.
A industrialização brasileira foi fator preponderante à necessidade de escolarização de uma parcela da população, todavia, essa necessidade atendeu somente ao próprio processo da indústria, não levando em consideração os aspectos da formação dos educandos e educandas como seres sociais, atuantes em seus processos de desenvolvimento vital e de aprendizagem: teoricamente, eram formatados a determinados conhecimentos. A cristalização dos “conteúdos”, os quais deveriam ser aprendidos fez e faz com que a forma do aprendizado se torne mecânica, engessada, criando um aprender direcionado a um ponto somente, negando o processo do aprender e refletir sobre este.
Com o final da Ditadura Militar, no início da década de 1980, houve a possibilidade de que novos processos de aprendizagem começassem a ser repensados. Com a extinção de disciplinas como Moral e Cívica e Organização Social e Política Brasileira, os currículos deixaram de ter a necessidade de uma formação direcionada ao patriotismo, porém, a construção dos currículos ainda manteve-se de forma a direcionar questões específicas a determinadas séries, o que, sempre dificultou o reconhecimento do ser em seu locus, motivado pelo fato de os/as educandos/as terem de estudar e decorar conteúdos que jamais utilizariam e utilizaram em suas vidas práticas.
Isto posto, durante décadas o aprender foi subjugado em detrimento de uma “decoreba curricular”, visando, sobretudo, distrair a atenção dos adolescentes e jovens quanto aos reais problemas enfrentados pelas sociedades mundiais. Assim, o aprender e o refletir sobre ele pareceram à história da educação como algo periculoso aos governantes.
Com efeito, o aumento do acesso a novas tecnologias, como o telefone celular, a Internet, assim como, as novas organizações sociais que se formaram a partir da década de 1990, com maior representatividade, fizeram com que grande massa populacional pudesse ter acesso a informações sequer imaginadas. Esse processo, em parte auxilia o processo do aprender, sob o ponto de vista da possibilidade variada de acessar a informação e com ela aprender (imagens, sons, leituras), porém, ela também bitola a humanidade, fazendo com que seu uso contínuo, construa um mundo de isolamento entre os seres, constituindo assim, o que se poderia chamar “individualismo social e cultural”, onde os momentos de reflexão se tornam cada vez mais escassos, até mesmo, pelo fato de que essa individualidade se choca com o processo histórico do aprendizado, onde a transmissão oral do conhecimento, a análise empírica do locus, a reflexão sobre esta, a experimentação com acertos e não acertos constituem o saber, fazendo com que eles sejam negados e transformados em um arcabouço de informações e fatos prontos, que não mais necessitam do pensar, do analisar, do construir, pois já estão construídos.
O direito à educação, como instituição é dever do Estado e de responsabilidade do povo, através de sua exigência a cerca dele. Esse direito deve contemplar a todos os grupos e classes ou camadas da sociedade, de forma igualitária e de fiscalização por parte de seus responsáveis, tanto por sua implantação como por sua manutenção.
A produção do aprender pode ou não estar ligada diretamente ao acesso à educação formal.
Quando pensamos na educação, visualizando-se, em sua forma material a escola ou instituições de ensino, devemos também refletir como essas instituições constroem sua organização educacional, como prevêem a construção do conhecimento individual de seus/suas educandos/educandas, para posteriormente unificá-los e integrá-los ao coletivo do grupo ao qual eles/elas se inserem, sendo a turma escolar, a família, amigos ou à sociedade em geral.
Essa construção ou organização do processo do “tentar ensinar” deve levar em conta aspectos múltiplos, que não somente aqueles que historicamente foram estabelecidos, deve-se sim, pensar na (re) construção de saberes que valorem a vida e a vivência dos educandos/educandas, que os/as tragam à sua realidade, que os/as façam refletir, (re) pensar, sobre os conhecimentos adquiridos, assim como, visualizarem-se no mundo e no grupo, como integrantes/participantes/ativos e não indivíduos passivos e a-históricos do cotidiano. Necessário é ainda, conduzir o aprender/ensinar a esferas de análises e conclusões individuais de seu real papel em sua própria vida, esclarecendo que seu aprendizado também contribuirá à manutenção do sistema existente, seja ele qual for; que sua força, cultura e intelectualidade faz diferença no mundo e em seu ‘próprio mundo”, seu espaço habitado, percebido e vivido.

Atualidade





Rivera - Santana do Livramento em 24/07/2010








Ivoti - 04 de julho de 2010






Ivoti - Domingo 04/07/2010