** O texto a seguir é parte do Trabalho de Conclusão de Curso de João Francisco da Costa, Canoas (RS)
A Geografia é, em grande medida, a ciência que compreende os espaços e as relações que existem dentro deles, sejam neste planeta ou em qualquer outro. Analisar, conceber e perceber o espaço em que se vive, se habita e atua, são máximas de estudo desta ciência. As relações existente no meio humano dão vazão à reflexão de variadas temáticas: físicas, naturais, econômicas e, mais recentemente, a cultura. Diante disso, a Geografia expande sua compreensão buscando entender as culturas variadas, assim como, seu estabelecimento dentro das sociedades, suas influências e formas de perpetuação. Outrossim, a resistência étnica e cultural possibilita hoje, que estudemos e compreendamos as diversas categorias estabelecidas por esses paradigmas. As religiões, tão separadas das ciências por séculos, demonstram hoje valor especial e de atenção ao estudo Geográfico. Em um país como o Brasil é inegável a presença religiosa de matriz e cunho africanos. Não é difícil perceber o terreiro, os despachos, as encruzilhadas.
Os africanos escravizados no Brasil por três séculos deixaram-nos heranças e marcas profundas, que refletem em nossos dias, a vitória de raças e povos diferentes que nos influenciam, auxiliam e, principalmente estão presentes em nosso cotidiano, seja na pronúncia de palavras, seja no escutar dos tambores na vizinhanças, ou nas observações ora maldosas, ora receosas: casinha vermelha? Batuqueiro!
A natureza é em si, dual, perpétua, ela elabora formas de reconhecimento entre os seres, e essas formas foram aproveitadas e sacralizadas pelas religiões africanistas.
Conceber as categorias geográficas, como território, paisagem, natureza, simbologia, fé, tanto dentro das religiões como da Geografia, é prova da cientificidade do estudo preterido.
As formas de resistência dos africanos escravizados no Brasil, demonstram hoje, a potencialidade de suas culturas. Os fatos ligados a organização espacial, cotidiano e principalmente, pela luta por melhores condições de vida, fizeram com que os afro-descendentes, criassem uma nova perspectiva e identidade sócio-religiosa, no Brasil e, sobretudo, no Rio Grande do Sul.
Compreenderam, a necessidade de uma união e organização de seu “novo” espaço, a luz daquilo que de alguma sorte lhe dava esperança: A Religião, a Fé. Sacralizaram o novo território, tornaram-no mítico, mesmo sofrendo pressão social e eurocêntrica, não abandonaram seu vínculo comum: O imaginário, a crença, a força, o axé. É necessário à sociedade em geral compreender, hoje, as realidades passadas, em diferentes momentos históricos, visando a preservação da identidade (re) construída, pelos africanos e seus descendentes nessas terras. À Ciência Geográfica cabe contribuir com esse fato, buscando entendimentos e compreensões que possibilitem o desencadear de uma conscientização sócio-histórica-geográfica, a respeito das culturas negras tão amplamente instauradas dentro dessa própria sociedade..... Negar o presença da organização, força de trabalho, religião, culinária, idioma entre outros elementos de origem africana em nosso cotidiano, é negar a si próprio, ao próprio país, país este, afro-brasileiro.

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