DA BELEZA À RIQUEZA - por João Francisco da Costa

Contam, os mitos nagôs que há muito já se vão esquecidos, que quando Olorum ou Olofin ou Olodumaré criou o Orum, os Eborás e os Orixás, teria criado Oxum, orixás da beleza, ou seja, a própria beleza; De Olofin teria herdado seus belos traços, seus olhos semicerrados e atravessados, sua pele totalmente negra, corpo modelado como as curvas das estrelas do céu, seus seios eram perfeitos, suas pernas as mais lindas que todos Eborás puderam ver. Seus lábios, Ah! Seus lábios refletiam Olofin; Enfim, Oxum seria perfeita, conforme Sua vontade.

Quando da criação de Oxum, Olorum comunicou a Obatalá e Oduduá e, evidentemente, a Exu Odara (o primeiro exu). Assim, de Exu, Oxum recebeu a esperteza nos negócios, nas forças, nas carnes, Oxum ganhou de Exu, a ligeireza no pensamento e no raciocinar em prol de si mesma. De Obatalá, o primogênito de Olodumaré, Oxum recebeu o Emi – o sopro da vida -, ao qual iria encher seu corpo belo e fazê-la orixá pelo resto da eternidade, até mesmo quando ninguém mais lembrar dos Orixás. De Oduduá, filha de Olofin, Oxum ganhou a determinação, a seriedade, o escutar e raciocinar nos momentos de maior necessidade.

Surge Oxum, orixá do Orum (Espaço Invisível), senhora única da beleza rara, da beleza interior e qualquer tipo de beleza, porém, paparicada por todos, pelos demais orixás, Oxum desenvolveu algo que o Orum ainda não tinha visto, mas que já era destinado pelo próprio Olofin: Oxum, imbuída de sua insuperável beleza, de sua vaidade, de sua conduta protegida, esta Obirinxá (Orixá Fêmea), desenvolveu em seu interior, a vaidade em excesso, o egoísmo, a soberba, isto é, a parte negativa desta Obirinxá é o desejo incontrolável de conquistar, de querer e ter e quando mais impossível isso possa parecer, melhor será; o desafio, ora, Oxum recebeu a determinação, a eternidade, ela recebeu a esperteza. Sim, Oxum, a senhora do Cobre e do Ouro, a riqueza material que a humanidade pretende, mas que necessita passar pelos dengos e vaidades de Oxum para conseguí-la; as relações sentimentais que as mulheres e homens da Terra buscam, de forma descontrolada, instigados pelo poder atrativo de Oxum, que os faz enlouquecer de paixão, e nunca, quase nunca, lembram-se dela para unirem-se, e impressionantemente é isso mesmo o que ela deseja, que não lembrem dela, para que ela possa castigá-los a seu risonho prazer.

Senhora das cachoeiras na Terra, da água doce e potável, é ela a guardiã dos segredos e tesouros espalhados pelo mundo. É aquela que desafia o patriarca, não de forma frontal como Iansã, com uma espada na mão, mas é aquela que trama a teia de sua vítima, não poderia ser assim diferente, é ela, Oxum, as próprias aranhas, animais de estimação que guarda em sua casa, a casa de Oxum, a tenda da Senhora, da Iabá Owo – Senhora do dinheiro -, é ela, a mãe que educa o filho pelo olho, porque seria demais a ela bater carnalmente em sua prole.

Oxum Apará, Dibeuá, Beuá, Irê, Mirê, Mirerê, Alupandá, Lupandá, Demum, Docô, Pandá, Mireum, Olomi, Omimeuá, Olobomi, Deci, são algumas qualidade de Oxum, conforme suas divisões e moradas, escolhidas por ela mesma, quando resolveu habitar a Terra, junto com os outros orixás, quando este planeta foi criado por Oduduá.

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